O importante papel do paisagismo na retomada do ser humano na sua essência

O reconhecido escritório Renata Tilli Paisagismo assina o projeto do forma196. Conversamos com a paisagista Renata Tilli para saber mais sobre a relação dela com a natureza e como foi participar da concepção do paisagismo do novo empreendimento da Pacific.

   

Pacific – Você vem de uma família muito ligada a natureza e ao cultivo das plantas. Como é seguir esse caminho profissionalmente?

Renata Tilli – Venho de uma família que trabalha com isso há mais de cem anos. Por um lado, é maravilhoso ter essa herança, porque acho que já nasci paisagista. Nasci nesse meio de cultivo de plantas, aprendi pela observação. Sou uma pessoa muito empírica. É uma herança do saber.

Por outro lado, tem um peso porque eu me cobro bastante. É uma área em que a gente lida com a natureza, mas nem sempre a gente acerta porque as plantas tem um comportamento muito particular. Cada planta é um indivíduo, então, às vezes, a gente se surpreende com o comportamento e o desenvolvimento delas.

Portanto, é um legado que eu carrego com muito orgulho, mas também tem essa minha cobrança particular de não poder errar. Tem esse peso para mim.

Pacific – Na sua opinião, qual é o principal papel do paisagista?

Renata Tilli – Eu acho que o paisagista tem um papel importantíssimo na sociedade, porque o homem se urbanizou muito. Quando você se afasta da observação natural, se afasta de você mesmo. Hoje, tudo é tecnologia, automatizado, concreto, asfalto. Então, eu acho que o papel do paisagista é uma retomada do ser humano na sua essência.

O paisagista tem que saber um pouco de engenharia, geologia, botânica, fauna, captação de água e estética. Porque como fazer a beleza sem entender da natureza? Acredito que o peso do paisagista é o mesmo de um arquiteto. São profissionais que precisam atuar juntos desde o início de um projeto.

Pacific – Como foi trabalhar a concepção do paisagismo no projeto do forma196?

Renata Tilli – Nossa maior e melhor interferência foi na área da praça de convivência, onde as pessoas poderão estar e interagir. Criamos um lounge e uma pequena área lúdica. A gente vestiu esse prédio com a vegetação. Ficou uma área intimista para as pessoas desfrutarem de uma área externa com contato com a natureza, mesmo estando em um edifício.

Pacific – A pandemia trouxe um olhar mais cuidadoso das pessoas para dentro de casa e muitos sentiram uma necessidade maior de contato com a natureza. Como você relaciona a presença das plantas com o bem-estar?

Renata Tilli – A cor verde remete a cura. Fácil perceber isso quando você pega uma estrada, no fim de semana, e sai da cidade para uma área rural e fica olhando a paisagem em volta. Você volta energizado. É uma cor com um poder impressionante, o verde cura você.

Na pandemia as pessoas adoeceram, ficaram olhando para as paredes, para a televisão e começaram a pensar que precisavam ter plantas em casa, nem que fosse um cacto. Isso aconteceu porque a natureza é sábia, não tem para onde fugir. Todos nós temos essa necessidade, mesmo sem saber dela. Fato é que a pandemia escancarou isso.

Pacific – Você assina diversos projetos de paisagismo de residências, hotéis, edifícios corporativos. Como você imprime sua personalidade nesses trabalhos?

Renata Tilli – Realmente faço muita coisa, de A a Z. Trabalho com vários formatos. Acho que não saberia não imprimir a minha personalidade nos meus trabalhos, tenho personalidade em tudo que eu faço. É mais forte do que eu. Como sou uma pessoa que vem dessa história que a natureza é o mais importante para mim, eu imagino aquele lugar como se fosse meu. Seja lá onde estiver tem que ter beleza e harmonia. Faço o projeto como se fosse para mim.

Pacific – Poderia citar quais são os paisagistas que você admira e que te inspiram?

Renata Tilli – Não poderia deixar de citar o Burle Marx, gosto muito da arte dele. Agora, paisagista tem alguns argentinos que eu gosto muito e que tratam a paisagem como deveriam. A Piti Navajas faz coisas lindíssimas e gosto também do Daniel Venn que interfere na natureza com muito respeito e simplicidade. Esse também é o meu caminho, gosto de fazer as coisas com simplicidade para não perder a naturalidade.